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- Seu Fulano, o senhor pode, por favor, tirar a camisa?
Tiritando de frio, o senhor retirou vagarosamente a blusa, os botões teimando em brincar por entre os dedos que sacudiam junto com o corpo. Ele estava envergonhado! E sua vergonha não vinha somente do tom de voz alto e jovial do médico que conflitava com os nossos olhares apreensivos. Não vinha somente do fato de ter corrido a vida assim, hígido e confiante, e, de repente, encontrar-se precisando de ajuda. SUA VERGONHA VINHA TALVEZ DO FATO DE SUA DOENÇA SER TÃO ESTIGMATIZANTE E QUE, PARA CHEGAR ALI NO CONSULTÓRIO, PASSARA ANTES POR DIVERSOS OLHARES CURIOSOS, ÀS VEZES PRECONCEITUOSOS, que viam sua pele toda descamando e não sabia do que se tratava.
Sobre o vermelho intenso de sua pele que queimava, milhares de casquinhas brancas se soltavam. "Eritrodermia!", cortou o silêncio novamente, com seu tom de voz jovial, o professor. A filha olhava com atenção para o médico, esperando talvez a palavra mais ansiada nos consultórios, ambulatórios e hospitais: "cura". Esperou, esperou, esperou... e o médico nos contava de que se tratava aquela manifestação, o que sentia o paciente, quais medicações deveriam ser prescritas.
E, indiferente à espera de sua filha, ao conhecimento vasto do médico e aos olhares curiosos dos alunos, o senhor se calava em toda a simplicidade que a doença pode nos trazer. Calava um silêncio que me gritou aos ouvidos: ele sofria!