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domingo, 5 de dezembro de 2010

Medo do que vai acontecer

Ciência e Caridade (1897) - de Pablo Picasso
É inevitável que, diante de uma doença, tenhamos medo do que possa acontecer conosco e aos nossos familiares/amigos. Imagine então como se sente alguém que recebe o diagnóstico de uma doença que há muito é estigmatizada, tanto pelos profissionais quanto pela população em geral: o câncer. Não que não tenham motivos para estigmatizar a doença! A estimativa do INCA para 2010 foi de quase 50 mil novos casos de câncer de mama e mais de 26 mil de câncer de pulmão, por exemplo. Além disso, para cada caso há um tratamento, o que faz dele um diagnóstico temido pelos pacientes.
Sendo assim, trato nesse texto dos possíveis erros cometidos pelos profissionais que lidam com esses pacientes. Manter a calma do paciente é essencial para um bom relacionamento com ele, além de ajudar no tratamento. Foi-me relatado que uma paciente contava ao médico A (que iria estipular-lhe o tratamento) sobre a consulta do médico B (que deu o diagnóstico) e o que este havia lhe dito. Ela falou que o médico B disse que, baseando-se nos exames, a possibilidade de cura do câncer era 100% se ela seguisse corretamente o tratamento e as recomendações médicas. O médico A imediatamente lhe disse: "NÃO EXISTE ESSE NEGÓCIO DE 100% DE CURA NÃO, QUEM FOI QUE LHE DISSE ISSO? QUEM FOI?!" Ainda que essa informação não fosse correta (o que eu não tenho embasamento científico para argumentar), é papel do médico "não destruir as esperanças" de um paciente. No livro "Sobre a Morte e o Morrer", de E. Kübler-Ross, é dito que a esperança é parte importante não só para o "comportamento" do paciente, mas para o seu tratamento. Ressalto, então, que haveria outras formas de lhe comunicar a verdadeira situação (em não sendo verdade).
Outro fato que lhes conto desse médico A é que, com uma outra paciente, agiu também de forma grosseira. Quando ela chegou a seu consultório para receber o tratamento, ele leu os exames e disse-lhe: "É, SEU REMÉDIO É ESSE AQUI, MAS TRATE DE CORTAR LOGO ESSE CABELO PORQUE VAI CAIR TUDO". Não digo que o médico tem que abraçar e colocar o paciente no colo, mas pelo menos deve por em prática o que nos ensinam (em algumas disciplinas): a empatia (leitura sugerida: "Você é meu") , pôr-se no lugar do paciente.
De fato, isso ocorre em vários consultórios, o tempo todo. É triste saber que alguns profissionais que estudam para "promover a saúde" ajam de formas tão esdrúxulas, sendo por vezes desumanos.
"A todos os que sofrem e estão sós, dai sempre um sorriso de alegria. Não lhes proporciones apenas os vossos cuidados, mas também o vosso coração" Madre Teresa de Calcutá

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

No leito ao lado...

Imagem de Arthur Rackham (Pandora Box)
Se fôssemos listar as complicações de dos hospitais públicos, bem... a lista seria enorme. Mas uma questão me chamou atenção em uma visita a um desses hospitais ("X"): COMO OS PACIENTE SE SENTEM EM UM QUARTO COM MUITOS LEITOS? De fato, um quarto com seis leitos fornece ao paciente muito assunto para se comentar. Mas é saudável que eles compartilhem também a agonia de seus companheiros de quarto?
Em visita a um paciente, este mostrou-se nervoso durante toda a entrevista. Inicialmente, é claro, pensei que se tratava de mais uma daquelas pessoas que têm medo até de ver alguém de branco (pânico do jaleco branco), mas não era bem assim. Com um pouco de conversa, sua esposa disse-nos que, em quatro dias que estavam no hospital, ele havia visto seu médico apenas no quarto dia e, além disso, o paciente do leito em frente havia tido uma parada cardíaca à noite.
Bem, sem a palavra do médico para lhe dizer qual a sua doença e vendo alguém ter uma parada cardíaca bem próximo, o paciente estava em pânico. Não tinha coragem de perguntar às enfermeiras e residentes o que ele tinha ou mesmo como era o procedimento que iria fazer. E, ainda que sua esposa lhe dissesse que um ultrassom não é um exame invasivo, ele não queria crer. Não dormira à noite!
Aproximei-me do casal e perguntei a ele como ele havia passado a noite. Ele não estava mais falando nenhuma palavra, pois o paciente à frente estava sofrendo mais uma parada. Nesse caso, devemos nos perguntar porque não houve um acompanhamento psicológico para este paciente. A resposta é imediata: EM UM SISTEMA DE SAÚDE QUE APERTA OS GASTOS POR TODOS OS LADOS E COM PROFISSIONAIS NÃO TÃO ADEPTOS DA HUMANIZAÇÃO DO ATO MÉDICO (APESAR DE INCANSAVELMENTE DISCUTIRMOS ISSO EM SALA), VOCÊ ACREDITA QUE ALGUÉM IA PENSAR EM PSICÓLOGOS PARA ENFERMARIAS? Não sou expert, nem tão pouco tenho propriedade para querer mudar o atendimento do hospital "X", mas estou ciente do isolamento que a doença inevitavelmente causa (Elisabeth Kübler-Ross afirma em "Sobre a morte e o morrer" que o pct por vezes sente-se só em sua dor). Discutir sobre a sua doença com o médico, ou pelo menos este estar presente (quatro dias sem que o médico chegue à beira do leito!), seria um bom ponto por onde começar.
O que acontece na "cama ao lado" pode ser um evento traumatizante para quem não possui uma instrução correta do que está acontecendo consigo. Tomando as palavras da esposa como exemplo: "ele tem medo que aconteça isso com ele" (em referência à parada do paciente do leito à frente. Não é preciso tanto esforço para se perceber que, mesmo que não se possa separar os leitos (um por quarto), é sempre possível paliar: médicos que escutam (e falam francamente aos pacientes), psicólogos disponíveis e até um acompanhamento religioso presente no hospital.
"Nossas doenças não são apenas o nosso corpo reclamando, mas a nossa mente também"