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"E não é que doi mesmo?", pensei e imaginei como eu reagiria em uma situação dessas...
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Um homem feito (como se diz popularmente), quase às lágrimas, contava a sua trajetória para a gente. Dizia do tempo em que passeara por diversos locais e nos fazia inveja com a sua memória de computador.- E quando foi que o senhor fez isso, Seu Fulano?
- Foi no dia 19 de novembro de 1958 - falava assim, como se falasse do que comeu naquela manhã.
No decorrer da consulta, o seu principal problema estava exposto. A separação de sua mulher o corroia por dentro e, saudável que sempre foi, estava agora triste, com o choro fácil e tomando mais medicações.
Em um dado momento, ele disse sobre a separação:
- A gente ia fazer 60 anos de casados, mas eu considero mais porque eu conhecia ela antes... Falava com ela de manhã, antes de sair pro trabalho; à tarde, quando voltava para almoçar; e quando voltava à noite... EU VIVI QUASE A MINHA VIDA TODA AO LADO DELA. É muito sofrimento.
Nesses instantes, o seu olhar se perdia numa vastidão de cenas que decerto passeavam em sua mente, em uma valsa constante e ensurdecedora. Ele havia se desfeito de muita coisa para esquecê-la. Doou os bichos de estimação e o primeiro presente que comprou para ela. Mudou a rotina. Pediu ajuda do filho. Mas parecia tratar-se de uma doença da qual a Medicina ainda não conseguiu medicar: a saudade. Aquela saudade que doi fininho no coração e não nos deixa agir. Aquela que vem, se instala e dita quais serão as nossas ações, os nossos pensamentos e até os nossos sonhos. A saudades que não nos deixa dormir...
- Como está o sono, Seu Fulano? Tá dormindo direitinho?
- Não, tô não. Eu deito na cama e fico vendo TV. Dai, quando o sono vem eu me ajeito na cama, mas não consigo dormir.
Tudo isso depois que ela saiu de casa. Falou da desilusão, que estava se sentindo abandonado por quem mais queria bem. E, lá pelas tantas, disse uma verdade que nos mostra o quanto o nosso egoísmo nos deixa doentes e que me permitiu entender muito dele, de mim e de tantas outras pessoas...:
"A contrariedade dá um mal-estar muito grande na gente"E como o amor doi... como doi!
E aqueles olhos? que disseram não acreditar que a vida possa melhorar sem a presença dela, ainnn
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