sábado, 3 de março de 2012

Diagnóstico difícil

Imagem retirada de grande-distracao.blogspot.com


Cheguei esbaforida da faculdade, cumprimentei-a e perguntei como estava. Ela disse que tudo bem, que tinha feito ontem mesmo o teste ergométrico (teste em que o paciente caminha em uma esteira enquanto são acompanhados alguns de seus parâmetros). O médico tinha dito que estava tudo bem:
- Eu só gostaria de saber o que que é “sugestivo de isquemia do miocárdio” que deu no meu exame.
“Isquemia do miocárdio”? No pensamento, como um grito ensurdecedor, aquelas palavras fechavam o diagnóstico: ela estava infartando no momento do exame! Como dizer que, apesar de o médico ter dito que estava tudo bem, ela estava com algumas porções do coração morrendo? Lembrei do seu filho, primeiramente. EU NÃO PODERIA FAZER AQUILO, AINDA NÃO ESTAVA PREPARADA PARA DAR ESSE DIAGNÓSTICO, E PARA ALGUÉM TÃO PRÓXIMO. Pedi-lhe que fosse pegar o exame e usei esse tempo como refúgio. Em minha cabeça, centenas de sentimentos choviam e lavavam a minha racionalidade. Como dizer?
Entregou-me os papéis com suas mãozinhas delicadas, dizendo que ainda estava com os braços meio doídos do exame. Abri e comecei a lê-lo:
CONCLUSÃO: não apresenta alterações no seguimento S-T    sugestivos de isquemia do miocárdio
- Não, aqui tem “não apresenta alteração”.
- Mas e essa parada antes do sugestivo? Não é outra frase, não? – falou apontando para a distância proporcionalmente grande entre “S-T” e “sugestivos”.
Não conseguiria descrever o alívio e felicidade que me deu em saber que, na verdade, as alterações sugestivas de isquemia NÃO estavam no exame. Agora, contando-lhe isso, percebi o sentido em se reforçar tanto a importância de uma boa escrita: uma vírgula pode mesmo mudar muita coisa!

2 comentários:

  1. É minha querida, estamos reféns do descaso da linguística e da escrita. A palavra é descaso e não erro. Porque o erro por em si ser perdoado quando consentido pelo outro, mas o descaso não tem consentimento algum! (Laís Brasil)

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