sábado, 10 de março de 2012

O dia em que errei

Imagem retirada de damien-antimatter.blogspot.com
Os atendimentos seguiam normalmente. Adolescentes e idosos eram atendidos e, por fim, o doutor-professor os via. Eu já havia ouvido falar em transferência e contra-transferência no atendimento médico. É mais ou menos quando o paciente deposita suas experiências de vida no médico e o médico deposita as suas de volta, podendo ser positivas (como quando uma paciente lembra sua vovozinha boazinha) ou negativas (quando ele lembra aquele seu vizinho insuportável). Porém, ainda não  havia acontecido comigo... até aquele dia.
Sentou-se à minha frente. A sua forma de agir não diferia em nada dos demais atendimentos daquela tarde. Apresentou um pacote de folhas, exames novinhos nos foram entregues. "Trouxe para mostrar pro doutor", disse olhando além de onde estávamos, olhando para o Doutor que estava em outra mesa logo atrás da gente, ocupado com outros pacientes. A minha colega perguntou se ele tinha pressão alta e diabetes.
- Foi pra isso que eu fiz o exame, pra saber se tenho 'diabete'.
Analisamos o exame e, de fato, ele tinha diabetes. Perguntei se sua consulta estava agendada no posto de saúde, para o dia seguinte (como havia me confirmado a agente de saúde). Ele disse que não, 'que isso e aquilo'. Em resumo: queria ser visto pelo doutor, e HOJE.
Perguntei ao médico qual seria a prescrição, na outra mesa. Quando voltei com a resposta, o paciente perguntou se o médico não veria o exame. Levei o exame ao médico, que me repetiu o que fazer.
- Ele tinha passado um remédio para mim quando me viu da outra vez - disse o paciente.
- Era um remédio grande, ... Metformina? - perguntei, já que ele não havia trazido a receita.
- Não, é um roxo, pequeno.
- Roxo... roxo... Será que é o Captopril? - pensei alto, enquanto tentava adivinhar de que medicação ele estava falando.
- Captopril é para pressão, menina! - FALOU DE MANEIRA QUE ME PARECEU DUVIDAR DE QUE EU SABIA PARA QUE SE PRESCREVIA AQUELE MEDICAMENTO.
A consulta não foi nada agradável. Difere em muito dos relatos que sempre trago a vocês... MAS EU PRECISAVA CONTAR COMO ERA UM ATENDIMENTO QUE NÃO DEU CERTO. O objetivo foi alcançado - ver os exames e medicar corretamente o paciente - mas os MEUS objetivos não foram! Sai de lá frustrada, como se os demais atendimentos do dia não houvessem sequer ocorrido. Esqueci da menina-triste e da vovozinha-que-voltou-a-estudar. Apenas aquele erro importou ao fim do dia: o dia em que não atendi corretamente, que a empatia não foi alcançada!


4 comentários:

  1. Acho teus post muita emoção. heheh gostei da parte do captropril. haha

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  2. Linda, que legal o seu blog! Ainda não tinha passado por aqui, mas já vi que tenho muito o que aprender contigo. Beijos!

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  3. Creio que o erro não foi seu. Quantas vezes não tive (e ainda tenho) que enfrentar o descrédito das pessoas por conta da minha aparente pouca experiência. E nem digo idade, digo que as pessoas julgam 'ver' experiência. É complicado pra nós, a gente tem que respirar, continuar séria e mostrar o que pedem: competência! E isso vai 'piorar' quando você se formar, Audinne!

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  4. Pois é, tenho visto esse descrédito cada vez mais, e não só por questão de aparentar inexperiência. E é realmente bem assim como você disse: respirar fundo e mostrar a que veio!

    *http://www.pacientesensinam.blogspot.com.br*

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