segunda-feira, 18 de junho de 2012

Com que sentimento me olhava?

Imagem retirada de rabiscandopoesiasrj.blogspot.com

Deu um passinho para trás quando nos viu na sala. Éramos quatro estudantes observando-o entrar. Ainda assim, ao comando do médico, ele entrou. E, por fim, disse que precisava dar uma palavrinha em particular com o médico. "Não se preocupe, Fulano, o que o senhor disser aqui é resguardado pelo sigilo médico", tranquilizou-o o doutor. O paciente olhou-nos mais uma vez, titubeou como se nossas "carinhas juvenis" não lhe dessem a segurança necessária para prosseguir, mas ainda assim sentou-se.
Aquela seria a minha primeira entrevista com um paciente soropositivo e ali estava eu, caneta a postos, estetoscópio pesando no pescoço, o jaleco esquentando... Comecei as perguntas conforme o roteiro: nome, idade, profissão. A parte que eu mais temia perguntar, por provavelmente ter pouco jeito com quilo, era sobre a sexualidade. "Pacientes HIV positivos não gostam de falar sobre como provavelmente adquiriu o vírus", pensava eu. Porém, além da minha clara ignorância em estreitar a transmissão apenas para a via sexual (e os acidentes perfuro-cortantes? E as transfusões? E...?), esta parte da entrevista foi tranquila.
Entretanto, com o passar das explanações do médico acerca da nova vida que o paciente deveria ter ("use camisinha, coma frutas e verduras, faça exercícios, venha periodicamente ao meu consultório"), SEUS OLHOS FICAVAM MAREJADOS E ELE PARECIA QUE IA CORRER A QUALQUER MOMENTO DALI. E eu já não mais falava, apenas o olhava.
Depois de todos os atendimentos, saíamos conversando alto, quatro estudantes que continuariam a vida apesar de tudo o que fora dito e discutido. Quando, de relance, vejo o paciente na porta do consultório. Ainda que passasse repetidas vezes as mão embaixo dos olhos, elas não eram rápidas o suficiente para impedir que a profusão de lágrimas rolasse. Eu definitivamente não estava em condições de consolá-lo, não tinha como eu fazer aquilo, sentia-me absolutamente despreparada. Conversei com minha amiga, que por sua vez foi conversar com ele. Quando retornou me disse "É, ele estava mesmo precisando disso!"