segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Você é meu...

Ilustração de Arthur Rackham
Muitos de nós pensamos que tudo o que nos cerca é nosso, ou diz respeito a nós. Muitos de nossos pensamentos têm como imagem central nós mesmos. E isso não é ser certo ou errado, é apenas a realidade. Mas até onde essa forma de agir não irá interferir na forma que agimos com as outras pessoas? Aqueles que prestamos serviços (os pacientes) percebem essa "mania" de nos colocarmos no centro de tudo?! EMPATIA: "Tendência para sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa" (Dicionário Aurélio). A empatia seria a solução para a melhor atuação com os pacientes. Quantas vezes não escutei (e eu mesmo digo) "vou ver o 'meu' paciente", ou ainda "o 'meu' paciente estava...". Bem, é por agir assim que muitas vezes expomos os doentes a situações ruins e, muitas vezes, dolorosas.
Nesse dia entramos no quarto com diversos pacientes que nos olhavam, como sempre, apreensivos. Entrar no quarto com cadernos nas mãos é sempre uma situação em que suspendo a respiração e aguardo os olhares fuzilantes sobre mim. Nos aproximamos de uma senhora, jovem, casada e muito, muito doente. Sua febre estava tão alta que sua fala era entrecortada pelo "bater de dentes". Além disso, seu coração palpitava tão alto que o subir-descer torácico podia ser percebido sobre suas vestes. Ela foi avisada de que poderia nos dispensar quando se sentisse incomodada, e isso foi reiterado diversas vezes pelo(a) profissional que nos acompanhava. Porém, isso era dito da seguinte forma: "se a senhora estiver muito cansada, pode avisar que a gente para, mas me diga como foi que começou essa doença". E mais uma bateria de perguntar eram "vomitadas", e isso se seguiu por mais duas horas e meia... A última meia hora foi gasta com o exame físico... diversos alunos palpando linfonodos cervicais, occipitais, axilares, ... Discutindo se sua fácies era de lua cheia ou se era apenas edema, (o(a) profissional) contando relatos sobre pessoas que não podiam ter filhos, que tinham tido câncer, que tinham tido eritroblastose fetal... o marido daquela senhora nos olhava com olhar de súplica, talvez pensando: "ela sobrevive, doutor(a)?".


Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=bMcQ4U_U6n4&feature=channel
A profissional age como muitos de nós: não explica os procedimentos e não fornece opções para o paciente


Então, tendo essas experiências, eu me pergunto: onde está a nossa empatia? Esses seres humanos têm o direito de saber "o que têm", "por que têm", "como não ter"... É fato que O RELATO DOS PACIENTE É PARTE ESSENCIAL DAS NOSSAS ATIVIDADES, NOS AUXILIA NO ENSINO E PERMITE QUE BUSQUEMOS A CURA (OU PALIAÇÃO) DA SUA DOENÇA, mas muitas vezes saio "arrasada" do hospital. São pessoas que sofrem e que só querem se livrar daquilo. São pessoas que nos prestam um serviço e que têm como recompensa a possibilidade de se curar. Cabe a nós, futuros médicos, saber quando devemos submeter o paciente a determinados esforços ou quando devemos procurar alternativas para isso...

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