quarta-feira, 24 de novembro de 2010

"Dr., o que o senhor está sentindo?"

Autorretrato de goya com o Dr.Arrieta 
Uma situação de grande aprendizado, e que ocorre com uma certa frequência, é ter um médico na situação de paciente e isso nem sempre transcorre de maneira tranquila e "aceitável" como ocorre com pacientes não-médicos. Por seu conhecimento do que a doença pode lhe causar (dentre outros fatores), o médico vê-se como "aquele capaz de identificar sua doença" e, em geral, recusa ajuda de outro profissional. Certa vez, ouvi o relato de um(a) médico(a) que apenas reiterou essa afirmativa. Ele(a) disse que, por já ter passado por um enfarte, estava de "sobreaviso" e, qualquer dor que sentia, acreditava tratar-se de um novo "ataque". Então, em um certo dia, sentiu uma dor muito forte, chegando a urrar de sofrimento. O caminho todo para o hospital foi um sofrimento, e ele(a) automedicou-se, tomando AS no caminho do atendimento.
Ao chegar lá, em sendo recebido(a) por um residente, disse que NÃO PRECISAVA FAZER AQUELA SÉRIE DE PERGUNTAS, PORQUE ELE TINHA CERTEZA DE ESTAR ENFARTANDO. O residente não continuou a rotina de perguntas e deu seguimento à solicitação de exames, que foram negativos para enfarte. Depois de algum tempo de investigação e através de um palpite aparentemente simples de um residente, o exame correto foi feito e tratava-se de outra doença.
O fato é que o profissional formado em Medicina tem uma grande dificuldade em aceitar a ajuda de um colega e, além disso, aceita a máxima popular de que MÉDICO NÃO ADOECE. É muito difícil para alguém que é treinado para curar encontrar-se em uma situação de fragilidade, como é a doença. Falta no currículo médico o ensino de que somos passíveis da doença e da morte... CONHECEMOS O CORPO, MAS NÃO SABEMOS COMO SER INATINGÍVEIS.
"O profissional da saúde está preparado para a cura, mas é frequentemente angustiado pela morte." Alexandrina Maria da Silva Meleiro em PSICOLOGIA MÉDICA (M. Caixeita, 2005, Ed. Guanabar Koogan)

Um comentário:

  1. Lendo o texto lembrei de um fato que minha professora de prática relatou hoje... Um fato que, muitas vezes, ocorre e o profissional médico não valoriza tanto quanto devia é quando o paciente dá o seu próprio diagnóstico 'situacional' (do que está acontecendo e não da patologia em si). No entanto, o médico não valoriza por tender a sempre se ver como dententor da verdade da situação do paciente (imagina quando o paciente é ele mesmo...) Ela continuou contando que ocorre, por exemplo, de paciente chegar relatando: "olhe Dra, meu potassio está elevado, pode me transfundir" e quando se vai verificar é exatamente isso...! Com isso, ela tentou mostrar que o paciente é um dos maiores conhecedores de si mesmo e cabe ao médico ter a humildade de relevar a opinião do paciente e descer um pouco do salto da onipotência, que muitas vezes está presente em muitos profissionais, sendo evidenciada no texto de hoje.

    Bsitos. :*

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