Chegamos à nona edição da Série "Outras Impressões" com o relato da médica recém-formada Natália Suellen sobre um dos nossos grandes temores ao enfrentar o dia-a-dia da Medicina: como mostrar que podemos ser bons profissionais, principalmente ao depararmos àqueles que outrora nos ensinaram? Medicina é uma área de constante aprendizado, aprende-se com os livros, com os pacientes, com os outros médicos e profissionais da saúde... Assim, este breve relato nos traz a reflexão sobre esses conflitos que se formam na cabeça daqueles que a pouco saíram da faculdade e que agora enfrentam a vastidão da profissão médica.
Natália Suellen Braga - médica |
"...atendi uma senhora cuja profissão (peculiar por lá) era 'médica'. Ela tinha já certa idade e, quando eu li a profissão dela, me deu um certo arrepio. Principalmente por cuidar de quem já cuidou de tanta gente.
Demonstrei surpresa ao atender uma colega de profissão e me fiz o mais séria quanto possível (é assim que compenso minha pouca idade). Ouvi as queixas dela, perguntei mais sobre as que julguei mais importantes e demonstrei bastante segurança em analisar o ECG dela. Procedi a toda a consulta da mesma forma como sempre costumo fazer, mas com um certo receio de estar sendo avaliada. Informei que a solicitação de exames para a dor torácica atípica dela se devia aos fatos de ela ser mulher e estar na faixa etária acima de 60 anos. Ela entendeu e aceitou esperar o tempo necessário ao resultado das enzimas rápidas (para afastar infarto).
Quando ela me mostrou os exames, expliquei que aqueles valores estavam dentro da normalidade, ou seja, que infarto estava afastado como possibilidade diagnóstica. A radiografia de tórax dela apontava para uma provável doença do refluxo gastroesofágico. Ao final do atendimento, tranquilizada, ela agradeceu a atenção.
Ao final do meu atendimento eu agradeci a confiança. Agradeci a confiança em alguém engatinhando pelo ramo da medicina."