Imagem retirada de asasdamemoria.blogspot.com |
E a cada palavra a paciente dizia, nos jogava na cara sua dura realidade de más-condições de saúde, de drogas, de fome. E em mim surgiu um medo que me engolia com aquelas palavras: o medo de me tornar indiferente. Medo de ver tantas misérias e não "vê-las". Lembrei então de tantas outras atrocidades que vi ao longo desses quinze dias em um novo serviço, da população necessitada, das mãos emagrecidas segurando o copinho com sopa servido no hospital durante o atendimento, da minha preocupação pelo paciente que precisava de uma medicação que o Estado não fornecia (como ele faria?) - e eu vi o que temia.: AS VÁRIAS HISTÓRIAS QUE AINDA ESTAVAM NA MINHA CABEÇA AOS POUCOS SE IAM APAGANDO, SE ESVAINDO EM MEIO A TANTAS DOSES DE REMÉDIOS PARA DECORAR, DAS SOROLOGIAS DE HEPATITE B PARA APRENDER, DOS PROTOCOLOS QUE DEVERIAM ESTAR NA PONTA DA LÍNGUA. E ser médico não nos permite sentir?
Vieram em minha mente as dezenas de exemplos de bons profissionais, daqueles que têm décadas de experiência em atendimento e ainda se doem com o sofrimento dos seus pacientes. Então eu percebi que ser "médico" (no sentido mais profundo da palavra) me deixaria saber e sentir ainda. Saber protocolos, medicações e diagnósticos. Sentir tristeza, amor e dor. Ser "médico" me permitiria ser humana, e não um ser inatingível. E tudo dependeria de mim, daquele caminho que eu escolhesse. Assim é com todos, todas as profissões, todas as pessoas - o medo do "não me importar" poderia me manter sempre me importando. E essa é ainda a minha escolha: sentir!
Lindoo texto! muitas vezes senti essa mesma angustia em alguns serviços, mas, realmente, a infectologia é mesmo visceral, é um leve afago aos excluídos. A gente faz o que pode, mas a crua realidade deles sempre retorna... :/
ResponderExcluirLindoo texto! muitas vezes senti essa mesma angustia em alguns serviços, mas, realmente, a infectologia é mesmo visceral, é um leve afago aos excluídos. A gente faz o que pode, mas a crua realidade deles sempre retorna... :/
ResponderExcluirLindoo texto! muitas vezes senti essa mesma angustia em alguns serviços, mas, realmente, a infectologia é mesmo visceral, é um leve afago aos excluídos. A gente faz o que pode, mas a crua realidade deles sempre retorna... :/
ResponderExcluirAldine, espero que vc faça clínica médica para que no dia que eu precisar no futuro ser atendida por um colega da área clínica, esse colega seja vc e eu não precise mais ter medo de médico, porque é esse sentimento que tem tomado conta de mim nos últimos tempos:medo de médico, ou melhor, medo de médico insensível. Vou ler seu blog nos momentos que estiver com a cabeça tranquila. Adorei o blog. Abraço fraterno, Fátima Azevêdo
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