quarta-feira, 1 de maio de 2013

Série Outras Impressões - E hoje eu sou médica


Chegamos à nona edição da Série "Outras Impressões" com o relato da médica recém-formada Natália Suellen sobre um dos nossos grandes temores ao enfrentar o dia-a-dia da Medicina: como mostrar que podemos ser bons profissionais, principalmente ao depararmos àqueles que outrora nos ensinaram? Medicina é uma área de constante aprendizado, aprende-se com os livros, com os pacientes, com os outros médicos e profissionais da saúde... Assim, este breve relato nos traz a reflexão sobre esses conflitos que se formam na cabeça daqueles que a pouco saíram da faculdade e que agora enfrentam a vastidão da profissão médica.

Natália Suellen Braga - médica

"...atendi uma senhora cuja profissão (peculiar por lá) era 'médica'. Ela tinha já certa idade e, quando eu li a profissão dela, me deu um certo arrepio. Principalmente por cuidar de quem já cuidou de tanta gente.
Demonstrei surpresa ao atender uma colega de profissão e me fiz o mais séria quanto possível (é assim que compenso minha pouca idade). Ouvi as queixas dela, perguntei mais sobre as que julguei mais importantes e demonstrei bastante segurança em analisar o ECG dela. Procedi a toda a consulta da mesma forma como sempre costumo fazer, mas com um certo receio de estar sendo avaliada. Informei que a solicitação de exames para a dor torácica atípica dela se devia aos fatos de ela ser mulher e estar na faixa etária acima de 60 anos. Ela entendeu e aceitou esperar o tempo necessário ao resultado das enzimas rápidas (para afastar infarto).
Quando ela me mostrou os exames, expliquei que aqueles valores estavam dentro da normalidade, ou seja, que infarto estava afastado como possibilidade diagnóstica. A radiografia de tórax dela apontava para uma provável doença do refluxo gastroesofágico. Ao final do atendimento, tranquilizada, ela agradeceu a atenção.
Ao final do meu atendimento eu agradeci a confiança. Agradeci a confiança em alguém engatinhando pelo ramo da medicina."

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas em Redes Sociais da Saúde


CONVITE

O Blog ArtriteReumatoide e o Grupo EncontrAR idealizaram este encontro nacional que é direcionado aos blogueiros e ativistas em redes sociais, que falam de saúde ou da convivência com a doença.

O principal objetivo do encontro é promover a união e fortalecimento dos blogueiros e ativistas em redes sociais que abordam o tema “saúde”, incentivando a democratização da informação, evidenciando a importância desses formadores de opinião como agentes de transformação social.

Marque presença!

quinta-feira, 28 de março de 2013

Série Outras Impressões - Agradecimento aos Pacientes


A oitava edição da série "Outras Impressões" do blog Pacientes Ensinam traz, em suas linhas, o texto que é um agradecimento àqueles que mais nos ensinam sem, muitas vezes, percebê-lo. Sob o ponto de vista do acadêmico de medicina Rafael Cunha, que em breve se formará profissional médico, os dizeres trazem em cada palavra um sentimento de amor e ternura aos pacientes, nossos eternos professores.

Rafael Cunha - Acadêmico de Medicina

"São necessários muito mais que bons livros para formarmos um verdadeiro médico. É lidando no dia-a-dia com as pessoas que talvez tenhamos nosso maior aprendizado, pois sabemos que leitura e técnica são fundamentais, mas que os pacientes também nos ensinam.

Quase que num pacto pela cura, entramos na vida das pessoas. Não no sentido de invasão, mas de compartilhamento. Os pacientes expõem suas angústias em busca de um consolo, muitas das vezes querendo apenas serem ouvidos. E nessa oportunidade de engrandecimento, nos tornamos mais maduros, aprendendo a escutar melhor o outro e a saber se colocar no seu lugar em momentos de adversidades.

Se um dia mãos trêmulas de inexperiência iniciavam um exame físico, hoje o fazemos com segurança graças àqueles que outrora gentilmente nos permitiram tocar seus corpos em busca de aprendizado. TALVEZ NEM TENHAM NOÇÃO DAS AULAS QUE NOS DERAM SEM QUE PRECISASSEM DIZER UMA SÓ PALAVRA.

Algumas vezes choramos juntos, mas felizmente na maioria delas nós sorrimos. Houve dias difíceis em que alguns ficaram para trás, mesmo que tivéssemos acreditado silentes que tudo daria certo. Outras vezes deram certo, e nossa pequena compreensão sobre as coisas além da Terra não nos permitiu julgar assim. Mas lembremos dos dias de vitória, que foram a maior parte, dos bravos pacientes que reconquistaram sua saúde numa luta incansável pela vida, com quem aprendemos a valorizar como grande triunfo cada pequena conquista.

Por isso, agradecemos aos nossos pacientes por terem nos ajudado a nos tornarmos pessoas melhores, verdadeiramente humanas. Levaremos conosco o ensinamento que nos foi oferecido e poderemos trazer saúde aos que nos procurarem ao longo da vida. Reconhecemos humildemente que nem sempre alcançaremos a cura, mas nossos braços estarão sempre estendidos em sinal da nossa gratidão."

terça-feira, 19 de março de 2013

Quanto tempo para esperar

Imagem retirada de adrianedto.blogspot.com.br
Passei alguns dias acompanhando a paciente. Exame físico matinal, questionamento sobre a qualidade do sono e se estava comendo o que lhe era oferecido. Todos os dias, um após o outro. Naquele dia, além da rotina, fui acompanhá-la em um exame. Após algum tempo de conversa sobre outras coisas da vida, ela falou que iria se casar antes da sua internação. Imediatamente olhei para a sua mão direita e vi como eu havia sido relapsa: não havia associado a aliança ao fato. Nossa, como era possível?
Começamos então a falar disso e seus planos eram derramados ali naquela sala de espera como um grande rio colorido. Era uma vida a dois que se iniciaria, ora, uma nova - e importante - fase da sua vida interrompida por exames de sangue, exames de imagem, exames médicos, exames...
Ela disse que tudo já estava planejado, data, vestido, local. Pensava em como ficaria vestida de noiva com cara de doente. Teria que adiar seus planos.
Então mais uma vez uma verdade se estampou nos meus olhos. Dia após dia examinamos os pacientes e mal nos tocamos que eles são muito mais que sinais e sintomas. Sim, geralmente não perguntamos sobre suas famílias quando estamos atendendo nas enfermarias, ou se não conseguiram dormir por causa de problemas pessoais, ou se ele está com saudades do seu lençol-de-estimação. Vai saber!!!

***

Certa vez, um outro paciente, quando eu perguntei se estava dormindo bem, disse "Tô não, doutora, aqui é muito quente". E eu, com o suor escorrendo no rosto, ri de mim mesma pela pergunta que depois me pareceu infame. "E quem dormiria bem com um calor daquele?"
Precisamos, então, ver ainda mais o paciente como pessoas além daquela enfermidade, que se casam, sofrem de calor, têm "entojo" com a comida que é servida. Afinal, somos todos humanos cheios de vontades e questionamentos, somos singulares na nossa forma de ser.