sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Não vi sequer seus olhos

Imagem retirada de escrevalolaescreva.blogspot.com
Estávamos todos ansiosos para o que iria acontecer: assistiríamos a nossa primeira consulta ginecológica. Quando viemos ao consultório, estávamos em bando - uma porção de alunos de jaleco branco. A paciente, que aguardava do lado de fora do consultório, viu-nos aproximando.
Ficamos discutindo como o professor sobre os procedimentos e percebemos uma movimentação lá fora. A paciente disse não queria mais fazer o exame e que iria embora. Certamente estava em seu direito e ai vem a grande dúvida que nos persegue a faculdade inteira: precisamos dos pacientes para aprender a ser médicos, mas como fazer quando estes se recusam o atendimento quando estamos?
O professor e os funcionário ficaram explicando que era necessário ela fazer o exame, resmungando que a paciente era isso ou aquilo e inquietos para resolver logo a situação. Por fim, ela concordou em fazer o exame.
Entro na sala rapidamente, preparou-se para o procedimento, deitou na maca e encobriu o rosto. Em nenhum momento vi seus olhos ou dirigi-lhe a palavra. EU NÃO SERIA CAPAZ DE DESCREVER COM PALAVRAS O CONSTRANGIMENTO QUE EU SENTIA. Ela parecia escrava a quem se impõe uma ordem e que ela realiza, mas com um ódio dos seus "senhorzinhos". Eu queria sair dali!
Estabelecer uma boa relação com o paciente, explicando os procedimentos e dando-lhe o direito de opinar é algo que transcende o que aprendemos na faculdade. Mas não é impossível de se aprender. O fato é que o paciente, principalmente estando em um local de atendimento público, pode se achar fragilizado, dando margem a alguns deslizes de quem lida com eles. Neste dia não aprendi apenas o que era uma colposcopia ou como estadiar o câncer de colo do útero, mas aprendi coisas que se deve levar para a vida: que aquele constrangimento eu não quero mais presenciar!

2 comentários:

  1. Com certeza faltou sensibilidade dos profissionais que ali estavam..comentando procedimentos em linguagem técnica..e a paciente ouvindo e se sentindo um objeto, uma cobaia..alguém conversou com ela?Ouviu o q ela sentia?No momento do procedimento, alguém OLHOU para os olhos dela, a viu como um ser humano ali presente??Essas questões considero fundamentais a serem pensadas!!
    Parabéns pelo Blog!
    Com certeza vc é um profissional diferenciado, pois o fato de se dar conta desses aspectos já a torna um profissional especial!

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  2. Obrigada pela visita ao blog, Gláucia!
    Sinta-se sempre a vontade para ler e participar!

    ♦ http://pacientesensinam.blogspot.com ♦

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