Imagem retirada de kdvg.se |
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A senhora começou a consulta dizendo que se sentia mal. Perguntamos sobre as medicações para diabete e a alimentação: tudo em ordem. Com poderia ter dado 273 a sua glicose, quando o aceitável seria 140?- O que a senhora comeu hoje?
- Comi duas bananinhas...
Intrigada, comecei a perguntar sobre a sua rotina alimentar. Depois de uma longa explanação de seus hábitos, perguntei se ela gostava de leite. "Sim". E com que frequência ela tomava:
- Ah! Leite eu tomo toda hora! Entre as refeições mesmo! Tem também outra coisa que eu acho que eu exagerei, sabe, "doutora"!? É que ontem eu comi uma manga...
- Mas qual o tamanho da manga?
- Era meio grande, assim - e mostrou uma distância considerável entre as mãos espalmadas.
A enfermeira e eu começamos a rotina de explicar que só a medicação não adiantava, que a dieta seria essencial. ELA DISSE QUE SABIA DE TUDO ISSO, QUE O AÇÚCAR EM EXCESSO LHE FAZIA MAL, QUE O PÃO ERA TRANSFORMADO EM AÇÚCAR EM SEU ORGANISMO...
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Como fazer nesses casos? Aquela senhora, ciente de sua situação de saúde, conhecedora dos meios de evitar o pior, estava entregue ao maior desafio do ser humano: não provar o proibido. Para não citar a Bíblia, digamos que sempre o inusitado, o perigoso, o proibido tende a nos fascinar, sendo necessário o profissional da saúde repetir algumas vezes as informações já gastas de tanto que são repassadas!Mas como exigir mudança tão radical de quem era saudável e se viu doente de algo que não se sente, que não se vê, como o diabete?
Então me fica mais uma lição: é necessário mais que compreensão para atender bem um paciente. Precisamos também, como eles, de paciência.
Proibi-los o proibido é tarefa difícil. Mesmo. Os hábitos estão presos à vivência de cada um. Uns até levam anos e anos. Crescem junto com a pessoa, como se fosse mais do que um acessório: fazem parte de um ritual diário chamado Viver. Audinne, parabéns pela sensibilidade do texto, que nos leva a uma boa e saudável reflexão.
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