Imagem retirada de flickr.com |
Destes, uma senhora me chamou atenção. Já havia atendido-a em outra oportunidade, lembrava inclusive de seu problema de saúde e de que era poliqueixosa (como se diz dos pacientes que nos trazem centenas de problemas de saúde). Perguntei sobre o uso dos medicamentos, ao que ela disse que usava bem direitinho. Após algum tempo de conversa, ficou claro que ela usava direitinho quando lembrava. Não tinha ninguém em sua casa que pudesse ajudá-la nisso, além de que ela mesma afirmava esquecer inclusive de comer, chegando a servir seu almoço e simplesmente voltar na cozinha, lá pela hora do lanche, e encontrá-lo intacto como havia deixado. Falou que seu marido era quem estava cozinhando e que não conseguia comer aquelas coisas verdes que ele colocava no prato. Carne? "Ingüiava" só em mencionar...
Contou-nos ainda dos problemas de insônia e de como seu filho chegava bêbado várias noites, importunando seu sono.
Soubemos que a sua rua era muito perigosa e que ela passava a noite quase toda de vigília, esperando pelo pior da janela de casa, com medo, muito medo.
Quem olha pelas milhares de senhoras e senhores que dedicaram suas vidas aos filhos e que estes lhes abandonam (literalmente ou psicologicamente)? Algumas vezes é tão doloroso atender pessoas que você sabe que poderá fazer pouco por elas. UM REMÉDIO NÃO PODE ORGANIZAR A VIDA FAMILIAR E ISSO É UM TAPA NA NOSSA CARA; É UM "VOCÊ SÓ PODE FAZER ISSO?" QUE NOS ENCHE DE UM VAZIO. Tenho consciência de que uma palavra com essas pessoas pode ser muito gratificante para elas, mas não me parece ser suficiente.
A doutora que nos acompanhava conversou com o agente comunitário da rua dela e pediu que ele ajudasse no controle da medicação, passando pelo menos uma vez por semana na casa dela para contar os comprimidos. Nós, estudantes, fizemos uma tabela e juntamos as medicações, para que ela pudesse lembrar de todas. Uma gota no oceano que espero tê-lo tornado um pouco mais cheio!
Perfeito, Audinne. Também já tive experiência semelhante. E, como você, também engoli uma lágrima diante do paciente. Mas te confesso: ela caiu logo que fiquei só no ambulatório. Bem, não nasci pra psiquiatria. Embora admire.
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