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A voz alterada no consultório contíguo chamou atenção. Parecia alguém
que brigava consigo mesmo, já que a outra voz - a que respondia - estava tão
baixa que mal ouvíamos. Nós, curiosos, fomos à sala para ver do que se tratava.
Encontramos o homem questionando, transtornado, porque a estudante não escrevia
logo um atestado dizendo que ele estava doente por causa do estresse do seu
trabalho.
- Mas senhor, eu não posso escrever isso. Isso é só uma hipótese sobre a
doença.
- Mas você disse que o estresse POOOODE causar isso, não disse? Então
escreva!
E completou
- Como é mesmo o seu nome? – olhou no jaleco – Ah! Fulana de Tal! Olhe,
Fulana de Tal, você é tão bonitinha, mas a sua ética é feia!
A estudante olhou para a médica, que acabara de entrar na sala.
Contou-lhe a história, interrompida várias vezes pelo homem. A médica ouviu, olhou-o e
saiu. O HOMEM CONTINUOU O INQUÉRITO. OLHAVA NOS JALECOS OS NOSSOS NOMES E NOS PERGUNTAVA DIRETAMENTE SE ELE TINHA RAZÃO OU NÃO. Perguntou para os meus
colegas e por fim, chegou a minha vez...
- É... Au... Audinne, me diga, você como médica não me daria um atestado
dizendo que estou doente? Não é o meu direito como paciente, não?
- Daria sim...
- Tava vendo??? – gritou ele, interrompendo a minha fala.
- Daria um atestado dizendo que o senhor está doente, mas não colocaria
que é por causa de estresse, já que não há como provar isso.
Ele me olhou sem dizer nada, afinal esta opção faria apenas a metade do
que ele queria: queria um atestado que permitisse que ele se aposentasse alegando
doença laboral. Mas não havia como provar isso! A médica retornou, dizendo que
ele faria um tratamento lá mesmo, com outro profissional.
Ele ficou na porta, cercando-nos por algum tempo. Parecia decidido a conseguir o atestado. Bem, depois saiu, mas aquilo ficou na minha cabeça: "você é tão bonitinha, mas sua ética é feia". Decerto, um julgo incorreto... muito incorreto!