sexta-feira, 25 de maio de 2012

Série "Outras Impressões": Medicina se aprende com a vida


O quinto texto da série "Outras Impressões" parecia mais uma postagem despretensiosa de Márcio Vinícius Gonçalves Leite no Facebook, porém estava cheia de uma verdade que precisa ser dita: Medicina se aprende com a vida... Márcio é aluno da Faculdade de Medicina da UFC e compartilha conosco suas impressões.

Márcio Vinícius - estudante de Medicina

"Se alguém me perguntasse meu maior desejo eu iria dizer que eu não queria que o tempo me mudasse. Eu não quero um dia me transformar naqueles médicos que tratam as doenças em vez das pessoas.
Quando eu estava no colégio eu achava que a faculdade era o mais importante de tudo. Mas o que a faculdade te ensina é apenas biologia. Medicina se aprende com a vida. E ninguém ensina mais que os pacientes. São eles que te fazem perceber que o médico é antes de tudo um amigo. E que não há dinheiro no mundo que pague um "muito obrigado".
EU AGRADEÇO A TODAS AS PESSOAS QUE AJUDEI ATÉ HOJE PORQUE ELAS FORAM MEUS MAIORES PROFESSORES. E quem quer que precise saiba que pode contar comigo. Sempre."

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Já dizia minha avó...

Imagem retirada de cac-php.unioeste.br
Ouvia aquela voz baixinha saindo da senhorinha frágil. Olhei para o papel onde estava escrito 167x100mmHg e voltei o olhar para ela. Não queria acreditar no que ouvia...

- E Dona Fulana, a senhora cai muito?
- Caiu sim, minha filha. Um dia desses cai de uma escada ali, na minha casa, ai senti um gosto de sangue na minha boca e muita dor. Peguei e coloquei uma xícara de água e coloquei sal dentro e tomei, porque eu lembrei que era bom pra sangramento, essas coisas.

O conhecimento popular nem sempre é o inimigo da saúde, aprendemos muito com os "fazeres populares". Aprendemos que alguns alimentos podem mesmo ser "reimosos" (ainda que não se consiga comprovação científica) e aprendemos que maracujá é um bom suco para quem anda com a pressão alta, apesar de não substituir a redução da ingesta sódica e a tomada da medicação. Mas muitas coisas são feitas que chegam a preocupar-nos.
Lembro-me das inúmeras vezes que discutia com a minha mãe sobre "um ótimo remédio para vomitar": coloca-se cinza quente do borralho do fogareiro em um copo com água fria e toma tudo. Também, quem não vomitaria!?
Meu pai, então, é o primeiro a correr para a cozinha quando os primeiros sintomas de dor-de-garganta aparecem: segundo ele, nada melhor para curar do que uma boa colher de margarina esquentada na boca do fogão ("Bom mesmo é com manteiga-de-garrafa", ele diria!) com meia colher de sopa de sal. Meia colher de sopa de sal!!! Realmente, não sentiria mais a dor-de-garganta porque minha garganta seria corroída e deixaria de existir.
Minha avó mesmo media os "umbigos" dos seu filhos com o galho do peão-roxo e colocava em baixo do pote de água, mas não antes de procurar pela casa um bom botão para colocar no buraquinho da barriga do bebê também para evitar a hérnia. Pois é, e a infecção do coto umbilical?
No dia-a-dia dos profissionais da área da saúde é importante reconhecer alguns "fazeres populares" que podem prejudicar o paciente. LEVAR PARA A REZADEIRA, SIM. E PARA O MÉDICO? TAMBÉM! Assim eu aprendi com meus professores de Assistência Básica à Saúde. Não há nada melhor do que resolver o problema do paciente e, principalmente, ajudá-lo a não adquirir outros problemas. Jamais seremos donos da verdade, e uma crítica que fazemos hoje pode ser a nova opção terapêutica de amanhã. De toda forma, somos obrigados a compartilhar o que conhecemos e incorporar o que de bom nos é oferecido!

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A força dos enfraquecidos


O relato que trago hoje fala do que tenho sentido nesses últimos tempos durante as aulas da faculdade...

De tudo o que consegui ver até hoje na Medicina, uma das coisas que ainda continua a me surpreender é o comportamento dos pacientes. É inevitável pensar em como eu me sentiria estando no lugar deles, não apenas pelas inúmeras situações de constrangimento que por vezes narro aqui, não por conta dos percalços que eles têm que enfrentar para conseguir ser atendidos, mas pela doença em si.
É uma questão de ver a doença como um evento, talvez um meio de aprendizado. Isso eles, os pacientes, têm na maioria das vezes. Algumas vezes me pego questionando o que eles estariam sentindo por estar doentes, mas essa pergunta nunca me foi tão frequente quanto agora, que estou conhecendo a Infectologia e a Oncologia (especialidade que trata de pessoas com câncer). Digo isso pelo conceito prévio que havia formulado de que todo paciente quando sabe que está com câncer chora o tempo todo, por exemplo. Tiro essas expectativas das minhas experiências pessoais, que geralmente não condizem com a realidade.
Deparei pessoas convivendo com a sua doença, e não se lamuriando por tê-la. Não foram todos, é fato, mas todas as vezes em que encontro alguém que continua seguindo em frente, apesar da doença, me lembro do dia em que tive "papeira", que me isolei em um quarto e tive pesadelos horríveis por horas seguidas - achei que fosse morrer! E era apenas "papeira"!
Disso concluo que nós, (futuros) profissionais da saúde precisamos pensar mais sobre o paciente. Pensar se ele está sentindo dor, se ele entendeu o que falamos, se ele sabe qual o próximo passo que deve ser dado para resolver seu problema. Devemos pensar nisso e tentar ajudá-los!
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Por fim, digo que um dos atos mais bonitos que eu vejo em um consultório é que, finda a consulta, o médico/estudante olha para o paciente e pergunta: "O(A) SENHOR(A) TEM MAIS ALGUMA DÚVIDA?"