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Estávamos em mais um atendimento quando entrou aquela dupla: mãe e filha, esta bem cuidada e aparentemente saudável e aquela, arrumada e maquiada. Quando começou a contar sua história, olhei para a pequenina e procurei algum sinal do que ela narrara: a criança havia nascido com o sistema digestivo incompleto, sendo necessário fazer um desvio do trajeto natural das fezes, que passariam a sair por um "buraquinho" feito por cirurgia na "barriga". A cirurgia já havia sido feita desde que ela nascera.
A criança nos olhava, estava calma no colo da mãe. Perguntei sobre a idade dela e já estava em idade escolar. AO PERGUNTAR O PORQUÊ DE NÃO LEVAR A CRIANÇA À ESCOLA, A MÃE RESPONDEU QUE NÃO SABIA COMO CONTAR AQUILO ÀS PESSOAS NA ESCOLA. Nossa! Passou-me pela cabeça tudo o que os nossos responsáveis fazem para nos proteger, mas proteger de quê? Do que as pessoas vão dizer? Do que você vai ter que enfrentar? Proteger de quê?!
Aquela mulher estava preocupada e envergonhada. Como ela faria para enfrentar um sociedade que não se preocupa apenas com a sua vida, mas se interessa pelos problemas dos outros, repassa-os, critica-os. Imaginei os pensamentos sofríveis que aquela mãe tinha ao pensar em expor a sua filha daquela maneira, avisar para professores e diretor do problema dela e compartilhar de sua realidade com outras pessoas. A mãe ainda disse que morava em uma cidade pequena e que tinha inclusive pessoas na família que não sabia disto!
Não cabe a ninguém criticar a atitude da mãe, mas eu tentei entender os motivos que lhe fizeram tomar tal atitude. Aconselhei-a a pensar mais sobre colocar sua filha na escola, para que ela não ficasse tão atrasada nos estudos, porém reconheço que não é somente um conselho que vai mudar a vida daquela mulher. EM UMA SOCIEDADE EM QUE NÃO SE PERMITE SER "DIFERENTE", NÃO É NADA FÁCIL QUE OS "DIFERENTES" SE ACEITEM COMO SÃO!