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Por Francisco Rocha, médico de alma.
Olha, somos, sim, muito mal pagos. Desculpem-me todas as outras profissões (que também são mal pagas), mas nós lidamos com a morte o tempo todo, seja para afastá-la por mais tempo ou dando conforto para sua chegada cada vez mais próxima, ouvimos dores o tempo todo, seja o médico psiquiatra ou cirurgião, somos quase sempre os vilões: para a mídia, nós não atendemos pacientes, nós recusamos cirurgias, não fazemos partos, estamos interessados somente em prescrever remédios para ganhar vantagens da indústria farmacêutica; para os pacientes, temos má vontade em atender, atendemos com pressa, somos grossos se não estamos de bom humor, somos preguiçosos se dormimos no plantão, somos demorados se fazemos hora do almoço, somos o capeta se o paciente morre mesmo que tenhamos feito de tudo, somos santos (e é tão pesado ser santo quanto demônio) se o paciente se salva; para nossos empregadores (planos, serviço público) somos produtividade apenas, ferramentas de propaganda política, lucro; para nossos colegas somos menores se não temos residências mil, somos medíocres se somos "somente" médicos de família, bruxos se somos Psiquiatra, carniceiros se somos cirurgiões, arrogantes se somos neurocirurgiões, menos capazes se cuidamos só de crianças, nem médicos somos se somos radiologistas ou patologistas. Para todas as outras profissões somos metidos, reclamões.
Poxa, estudamos, sim, por mais tempo, nosso curso é muito difícil se levado a sério, e não é difícil por causa das disciplinas, porque para mim nada é mais difícil do que física, por exemplo, mas difícil pela responsabilidade da nossa profissão. Quando se faz Medicina por amor, como eu faço, sabe-se que, quanto mais sabemos, mais ferramentas para matar o paciente se tem. Sim, matar, porque é muito mais fácil cometer um erro quando se tem mais opções. Quando decidimos um tratamento, por mais simples que este possa ser, há implicações, há reações adversas mil que podem ocorrer e matar o paciente.
Para nós, que fazemos Medicina por amor, o final é o paciente, não é o dinheiro, o sucesso. SOMOS MAL PAGOS E MAL VISTOS E CÁ ESTAMOS SORRINDO PARA CADA PACIENTE QUE AGRADECE O FATO DE NÃO SENTIR MAIS DOR.
Tenho vários amigos em várias profissões e eles são muito competentes, excelentes, crânios, mas afirmo com quase certeza (porque a certeza absoluta é burra) que nenhum deles daria conta de uma jornada de trabalho nossa de oito horas.
Medicina é vida e morte e não há nada mais complexo do que viver e morrer.
Por isso, antes de reclamar dos médicos, de falar que nós nos queixamos à toa, coloque-se no nosso lugar. E perceberam como escrevi na primeira pessoa do plural? É porque eu não me vejo médico sozinho, sou médico com todos os meus colegas que, né, poderiam passar a ter essa consciência de classe.
NÃO SOMOS SUPERIORES NEM INFERIORES, SOMOS MÉDICOS E PACIENTES. Já pensaram como isso é difícil? Se por um lado sentimos a alegria duas vezes, a dor também vem em dobro e continuamos sorrir porque não sabemos fazer outra coisa no final do dia.
Por Francisco Rocha, médico de alma."
Texto lindo! Quando voltará a posta/compartilhar no blog?
ResponderExcluirRaíssa,
ExcluirEstou me esforçando para reencaixar o blog na minha rotina. Espero poder contar em breve novas e emocionantes histórias que eu tenha presenciado!
* http://pacientesensinam.blogspot.com.br *
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