Algumas vezes ouvimos e vemos coisas sem perceber a possibilidade de delas retirarmos alguma lição. Esse blog objetiva falar do que eu tenho aprendido com os pacientes, suas famílias, suas queixas e seus desejos, subentendidos ou expressos. É um relato do que é pouco visto nas faculdades na área da saúde: o lado subjetivo do viver. Serão relatadas também experiências agradáveis e desagradáveis como aluna de Medicina. Deixo um convite à reflexão sobre a vivência do aprender e fazer saúde.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Quanto mais preciso aprender...?
Tive hoje mais uma "daquela" experiências que precisam ser ditas. É uma daquelas que dá um estalo e pensamos: o que que eu estou fazendo para mudar minha forma de agir? Estava em um serviço de saúde para ser atendida, sentada na sala de espera, lendo. De repente rompeu à porta mãe e avó com um pequeno "serzinho" nos braços. A mãe, desesperada, gritava pedindo "UM MÉDICO, PELO AMOR DE DEUS, MEU FILHO VAI MORRER!". Inicialmente o choque... olhei a criança nos braços do guarda (aturdido): o bebê estava roxinho e seus olhinhos não piscavam. Todos pediam calma e ela gritava por um médico. Ai aconteceu: eu, estudante de Medicina, impotente naquela situação. Não sabia o que fazer, como agir e muito menos como me impor. Aliás, essa é uma tarefa bem difícil para mim, já que quase ninguém (bem, estou sendo eufêmica...: ninguém!) me vê como adulta.
Isso me fez lembrar a vez em que eu estava viajando e, no ônibus, um rapaz desmaiou. Todos atordoados, senti seu pulso e disse que estava muito fraco. Ele havia bebido na noite anterior e estava em pé a bastante tempo. Meu diagnóstico: provável queda de pressão. Falei isso e sugeri que dessem-lhe sal, um pouquinho de sal de "chilito" em baixo da língua. Falei isso enquanto todos gritavam pedindo um bombom (um bombom para uma pessoa desmaiada?), então as amigas deles me olharam, riram e gritaram no ônibus: a enfermeira tá pedindo um "chilito"! Poxa! Sabe o que fizeram por fim? Uma amiga comprou água com gás, que ele não pode tomar porque estava desmaiado, colocaram um bombom na boca dele e ele continuou desmaiado até a cidade de destino. Ainda brincaram comigo mais algumas vezes enquanto eu verificava o pulso do rapaz esverdeado e empapado de suor frio.
Bem, voltando à criança inerte nos braços do porteiro...: não havia médico no serviço (é porque lá não é para ter mesmo, não é mais uma negligência do Estado, não!). Então uma enfermeira perguntou o que o bebê tinha, a avó disse que era hipotonia. Juro que me senti uma ignorante! O que se fazer nessa situação? Não sabia que doença era, nem o que fazer... só deduzi que o diafragma possivelmente estivesse parado, mas por quê?! Algumas pessoas vieram rezar com as mãos para o alto, a enfermeira massageava o peito do bebê e eu fiquei dividida entre ligar para o 192 ou correr no hospital que ficava a uma quadra dali - mas que provavelmente os médicos estariam ocupados com os paciente eletivos (lá não tem Emergência).
Quando o bebê voltou a respirar e mãe e avó levaram-na ao médico à uma quadra (que era para onde estavam indo antes do ocorrido), aqueles gritos de horror e desespero ainda ficaram ecoando nos meus ouvidos por todo o dia e eu percebi que TEMOS SEMPRE MUITO O QUE APRENDER E A HUMILDADE DEVE SEMPRE ACOMPANHAR AQUILO QUE NOSSOS CONHECIMENTOS IGNORAM...
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Realmente tem situações que o máximo que a gente pode fazer é ligar para a emergencia... tanto por falta de conhecimento como por falta de meios. Mas pelo menos se importar e tentar fazer algo (mesmo que seja só ligar para o 192) já é alguma coisa. =D
ResponderExcluirBelo post Audinne!
ResponderExcluirGostei muito mesmo!
So nao me conformei com a ignorancia das pessoas (na historia do onibus).
E espero que o bebê tenha ficado bem!
Bjuus